Essa poderia ser uma carta de despedida


Eis aqui minhas primeiras e últimas palavras. Eis aqui um desabafo.

Para quem não sabe, atualmente, estou trabalhando bem longe da minha formação acadêmica. Nem sempre a vontade(zinha) de trabalhar na área se faz concreta, porém, esse não é o problema. O problema são as pessoas com quem somos forçados a trabalhar (e a conviver, de um modo geral).
Ultimamente, venho sofrendo um pouco de repreensão/assédio (é isso que se diz?). Não é diretamente a mim, mas é ligado ao que sou.

E eu sou gay.

Para muitos vai ser “haha, quem não sabia, miga?”, mas para outros pode ser um escândalo. “Como o prodígio, o perfeitinho da família, pode ser assim?”. É, minha gente, eu cresci para ser o The Best, porém, não é isso que quero. Minha sexualidade só se revelou como algo mais. Algo intrínseco a mim. Algo que me ajudou a fugir da fachada que criaram a minha volta.

Mas foi difícil entender o que eu sentia e me aceitar. E foi ainda mais difícil acreditar que isso era algo normal. E ainda mais, revelar para minha mãe minha natureza. Algo que nem todos da família sabem (e podem estar sabendo nesse momento).

Onde quero chegar, você deve estar se perguntando.

Pois bem, como mencionei, às vezes somos forçados a conviver com pessoas que não entendem a gravidade de determinados assuntos, ou simplesmente abstraem isso da mente. Afinal, não é algo que as atingirá diretamente. E, com isso, abre-se espaço para a famigerada homofobia velada em tom de brincadeira.

Essas brincadeiras, raramente são direcionadas a mim, porém, convenhamos, é algo que incomoda. Dizer que um vai comer o outro, como se isso fosse algo promíscuo ou uma forma de diminuir o outro e ofender, não é a melhor coisa a se ouvir. Sem dizer quando você é obrigado a ouvir “aqui veado a gente trata na bala”. Oi, migo?

Cadê o profissionalismo? Cadê o respeito?

Eu sempre digo: não quero que todo mundo me “aceite”, não quero biscoito nem ser paparicado por ser gay. Quero ser respeitado. Assim como muitos que nem eu. Assim como você. E todo o resto do mundo.

Quando digo que essa poderia ser uma carta de despedida, você até pode pensar “que exagero”, entretanto, talvez, você não esteja inserido no mesmo círculo que eu, em que todo dia algum LGBT+ sobre opressão, discriminação ou é assassinado. Ou se mata, simplesmente por não aguentar a pressão social que vai contra tudo aquilo que acreditamos. Aquilo que queremos ser. Simplesmente porque somos.

Ouvir comentários homofóbicos e ameaças veladas, mesmo que não direcionadas a mim, incomodam, irritam, tiram um pouquinho da esperança que tentamos construir diariamente. Esperança de que as coisas possam melhorar. De que os esforços de milhares de pessoas ao redor do mundo possam resultar em bons frutos.

Tudo isso, vai se calando cada vez mais dentro de mim quando pessoas que estão em posição superior e são responsáveis por uma equipe, se posicionam de uma forma “neutra” — leia-se “fugindo de problemas que não são meus porque estou confortável participando de joguetes que não me atingem de nenhuma forma”. Por favor, se você é ou um dia for, não seja esse tipo de chefe.

Sendo uma pessoa que tende para o lado negativo, eu poderia fincar todas essas atitudes em minha mente como uma bola de demolição e, lentamente, destruir os castelos que construí em minha mente. Fortificações essas que me confirmam e reafirmam que não há nada de errado comigo. Nem com você, leitor LGBT+.

A questão é…

O problema está na construção social e cultural.

E talvez nossa geração não seja a responsável por mudar esse pensamento. Nem todos estão aptos a isso. Nem todos querem entender o sofrimento alheio ou simplesmente digerir o fato de que ele existe e não é mimimi.

Apesar de biologicamente “iguais”, somos diferentes em cores, tamanho e formas de lidar com situações. Isso é algo que precisamos respeitar.

Mas cabe a nós, de semente em semente, semear um pouco mais de empatia àqueles que buscam por compreender e, por que não, respeito e amor.

Tags:

Share:

0 comentários