Conto: A Caneta de Prata - Parte 2

Olá, pessoal, hoje segue a segunda e última parte do conto A Caneta de Prata, de minha autoria. Para quem não leu a parte um, clique AQUI e você será redirecionado. Espero que gostem do desfecho da história de Israel.

A Caneta de Prata

Parte 2

Depois do episódio com os pais, Israel retornou para casa e se jogou no sofá, analisando a caneta de prata em suas mãos. Não queria aceitar que aquilo havia acontecido, mas sim, ele afirmou a si mesmo, tinha acontecido.
            Levantou-se do sofá subitamente e lançou a caneta contra a parede. Andou até ela e a juntou do chão, lançando-a em seguida contra outra parede. A raiva fervilhava em sua alma. Apesar de tudo, sabia que o que seus pais lhe disseram — mesmo mortos — era certo. Ele precisava aceitar que para tudo existe um preço ou retorno.
            Cansado, jogou-se no sofá mais uma vez e caiu num sono profundo.
            Sonhou…
          Sentado em sua mesa de trabalho, Israel continha em sua mão a caneta de prata, que usava para escrever rapidamente.

Eu sou a caneta dos desejos.
Você me usou para pedir tudo o que desejava.
A morte de seus pais fora apenas o troco pelo meu uso.
E se continuares a me usar, mais sacrifícios serão pedidos.
Sou poderosa, e poderes precisam de grandes responsabilidades.
Isso falta em você, por não me usares para fazer o bem ao próximo.
Sou a realizadora dos desejos.
Apenas eu poderei salvar o que precisa ser salvo.
Mudar o que precisa ser mudado.
Se continuares me usando para o próprio bem, nada sobrará.
Se me usares para o próximo, serás salvo de si mesmo.
Pense e responda: seus próprios desejos são tão mais preciosos que os daqueles que o cercam?


Israel nunca mais foi o mesmo. Ele sabia que tinha o poder nas mãos, mas ignorara completamente o sonho. Resolveu deixar a caneta escondida para si e usufruir de seus poderes para o próprio bem. Pessoas a sua volta morreram. Sua vida se transformou num inferno, e não havia formas de retornar. Nada mais fazia sentido em sua vida. Estava enlouquecendo. O egocentrismo afastou-o de tudo e todos.
           E foi numa noite em que segurava uma faca nas mãos, pronto para se apunhalar, que a caneta dos desejos brilhou. Fitando-a com curiosidade, decidiu pegá-la antes que seu brilho se apagasse e uma palavra surgiu em sua mente: Recomeçar.
            Desesperado, pegou um pedaço de papel qualquer — um guardanapo — e, com lágrimas nos olhos, escreveu “Recomeçar”. A palavra se iluminou. O fulgor tomou conta de todo o ambiente e, antes que pudesse fazer qualquer coisa, seu corpo paralisou e sua mente se dissolveu.

            Nascimento.
            Primeiro dente.
            Primeiro passo.
            Um aninho.
            Fase infantil.
            Estudos.
            Puberdade.
            Adolescência.
            Faculdade.
            Amor.
            Primeiro emprego.
            Formatura.
            Empresário.
            Shopping…
            Caneta dos Desejos.

Israel passou por toda sua vida num piscar de olhos. Era como assistir a um filme em velocidade máxima. Abriu os olhos e fitou a caneta de prata através do vidro. Sentiu a conexão com o objeto, mas sabia não ser mais necessário seu uso. O elo se partia a cada segundo que seus pensamentos trabalhavam numa forma de não precisar passar por tudo mais uma vez.
            Quando a ideia surgiu em sua mente, tocou a vitrine, murmurou um “Obrigado” à caneta e se distanciou, saindo do shopping.

A vida daquele pobre homem (não em dinheiro, isso ele tinha de sobra, mas pobre na vida) recomeçou. A primeira coisa que fez foi visitar os pais — sãos e salvos como se nada tivesse acontecido. Sorriu e brindou com os dois. Amou-os incondicionalmente.
            No dia seguinte, ao chegar à sua empresa, não foi o chefe mandão egoísta que costumava ser. Pelo contrário, passou a ajudar mais seus funcionários e a correr com eles para achar soluções melhores, para o que quer que precisassem. Procurou ajudar mais as pessoas, instituições carentes e até os mendigos que dormiam em frente ao seu prédio.
            Israel sabia que fora uma nova chance que a vida lhe deu, e precisava ser digno dela. Só não sabia se tudo o que fazia era suficiente para encontrar a luz no fim do túnel quando tudo terminasse, mas já era um grande passo para a entrada do túnel.
            Sorriu ao se lembrar da caneta de prata, a Caneta dos Desejos, e agradeceu mais uma vez por encontrá-la e descobrir que a vida é mais bela do que se pode imaginar.

Obrigado a quem leu até aqui. Espero seus comentários!

Elton Moraes

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